domingo, 29 de março de 2009

Salvação

Ah, pobre alma, indefeso
amor de uma existência
Venha, acalme-se, perceba
o que tens feito sem sentir o peso

De erros que vêm e vão, das impensadas
palavras, da latente insistência
Infantil, sensível, pequeno, influente
Tanto és, tanto precisas e ainda nem sabes

Como podes findar tanta confusão e tristeza
e achar, afinal, a rima, o som, a alma que pode
assim ser, a tua perfeita

Aquela onde encontrarás alegria, coração
que será tua salvaguarda, tranquilidade,
a inspiração.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Princesa.

Quantas vezes havia se olhado no espelho, mas sem ver qualquer coisa ?

A menina dos cabelos que tinham cor do sol em um entardecer de inverno, os olhos castanhos, a pele branca, não tinha sequer uma imperfeição. Era uma boneca.
Só não de borracha, pois se quebrava muitas vezes em razão de seu rebelde coração. E colecionava as junções em sua porcelana, todas as falhas que a machucaram e que a foram tornando mais fria assim como os dias de brisas geladas e cortantes.
O que a aquecia eram as lãs que roçavam por sua pele fina e o fogo da lareira em frente à sua cama, lugar de tantos sonhos e lágrimas. Suas intenções eram boas, até que as distorciam.

A puxavam e a controlavam. Ela se entregava cada vez mais ao que lhe fazia mal, mas sentir-se viva. Aquilo que batia secamente no fundo de sua alma perfeitamente correta, aquilo que desconcertava seus pensamentos e conduta.
Ela continuava a descer a paisagem íngrime à qual escolhera por livre e espontânea pressão de amigos e de seu círculo. Agia como outra pessoa, outra personalidade em um jogo bipolar e perigosamente excitante.
Apesar de tantos erros, ela ainda conservava a inocência rosa que permeava seus dias e olhos. Tinha a ganância infantil de querer ser melhor que quem era apenas de outra maneira.
Quantos dias ela passava despreocupando-se ao preocupar os outros que a amavam?
Seria inútil contar (?).
Sua amizade desprotegida era a cafetina de suas vontades e ações.
- A palavra e o peso da reputação não me afetam, não tenho isso, ela dizia. Quero viver, sair, respirar... As pessoas entendem meu comportamento. Não faço nada de errado, ela achava.

Era apaixonada por um garoto o qual não merecia seu amor de algodão. Chegou a conseguir uma noite perto dele. Disse que ele havia passado dos limites, mas achou normal e ainda conservava o sentimento puro de carinho quando o lembrava. Mesmo tendo um babado de sua blusa delicada rasgado, ela voltou pra casa se sentindo importante.
Era a nova carne em período de experimentação e treinamento. Era o cheiro de frescor de uma vida e princípios imaculados.
Sempre fora mimada por todos, mas era ainda uma menina muito simples e ingênua. Tinha tudo o que sempre desejou e talvez, por isso, continuasse deixando ser controlada para ter o que sempre quis: reconhecimento, amor, carinho, e qualquer outra coisa (ou pessoa) que cruzasse sua linha de almejo. Conseguiria isso, sem dúvida... Mas em troca de seu espírito antes leve e transparente.
A famigerada fama de suas mentoras começava a espalhar-se com a mesma rapidez com que flocos, grãos e partículas se esvaem ao vento. Mas com a vagarosidade de alguém já senil e sem força para crer na verdade, ela não conseguia ver o mal que a rodeava e a entorpecia. Deixava seus sorrisos a encargo de quem poderia trazer-lhe o contrário da motivação desses espasmos, ou quem poderia causar-lhe tristeza e arruinar sua vida. Ela os trazia para mais perto, enquanto quem maldizia e tentava lhe mostrar a parte real, era pouco a pouco mais afastado.

- Como é triste, diziam suas amigas em tom tétrico, não é possível que ela não acorde!
E todos começavam a comentar, opinar e a ficarem cada vez mais decepcionados consigo mesmos. Onde haviam errado?
Todos pareciam ignorar as influências externas, pareciam tornar-se mais hipócritas a cada final de semana gasto em madrugadas vazias. Tentavam redimir-se entre si mesmos esquecendo da existência física da princesa tão incrustada no pedestal feito por seus próprios e inconseqüentes méritos.
Assim como eles a lembravam, esquecendo-se dela, ela os esquecia lembrando-se que eles a esperavam.