terça-feira, 1 de julho de 2008

Sobre o Cara Esquisito da Rua Principal.

Era um sujeito alto, muito mais alto que o normal. Usava uma camisa rosa, alinhada e cheirando a amaciante e sabão em pó.
Sua calça era azul-marinho, condizente a todo seu tamanho, e seus sapatos tinham solados de borracha. Não faziam muito barulho e afinal, ele andava no asfalto. Pelo meio da rua.
Seu rosto não era totalmente figurável, pois ele levava nos olhos óculos grandes e provavelmente, fora de moda. Deviam ser de grau e de sol ao mesmo tempo e eram realmente grandes.
Ele levava consigo, uma bolsa de couro, escura. A levava com a alça transpassada em seu peito magro e em conflito com seu quadril, que seguia por suas pernas compridas.
Sua pele branca se escondia atrás de uma barba farta e castanha clara, quase loira, com um bigode bem aparado. Seus braços eram compridos e dançavam pelo ar enquanto ele andava do seu modo peculiar. Pelo meio da rua.
Aparentava ser novo, porém com algo de senil e antigo. Aquilo tudo poderia ser um disfarce. Não era uma figura normal e facilmente identificável. Era aquela pessoa para qual tem-se que olhar e continuar olhando, pois cada detalhe representa alguma coisa fora do conjunto.
Passei por ele e continuei olhando. Mas ele parecia não ver. As vezes, se fez de cego para disfarçar a visão. Própria e alheia. Quis evitar de ser fitado e ter de fitar em retorno.
E assim ele continuou andando, ao meio-dia, sob o sol. Pelo meio da rua.

Um comentário:

Léo Abrão disse...

Rapidamente: admiro o seu jeito de escrever. Percebo estilo :-) Gostei da descrição do cara...estou com sono, morto, diria...e ainda senti leveza e prazer na leitura. Foi ótimo ter descoberto suas letras :-)