segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Terminal Central.

Um garoto. Duas pernas. Um par de muletas.
Eu, parada, esperando o ônibus em meio a um vai-e-vem de pessoas, cores, jeitos, humores e preocupações, vi na plataforma seguinte, o tal garoto.
Vi, e não conseguia parar de observá-lo. Eu via sua dificuldade e a dificuldade das outras pessoas em simplesmente oferecer ajuda.
Quão fácil era para todos apenas passarem por ele, desviando de suas muletas que se moviam vagarosamente ?
Ali, sendo apenas mais uma pessoa a espera, pude ficar observando-o e pensando em como a vida é fútil, ou como as pessoas a fazem ficar assim. Pensei em como a vida é simples, em como a vida é rápida e frágil. Pensei em como ela pode ser ingrata e injusta. Pensei ainda, em como andava a minha própria.
Tentei esconder meus olhos marejados e, atrás de minha pasta, agradeci baixinho por tudo o que tenho, por não ter dificuldades maiores à minha volta e ao mesmo tempo, questionei Deus sobre o propósito de toda aquela luta. Não obtive resposta.
Concluí que a vida e as pessoas nunca são como esperamos. E nem a perfeição os dois alcançam. Pelo contrário, alcançam cada vez mais, o maior grau de imperfeição. A imperfeição que faz as coisas serem como são e nos acostumarmos a elas. Por que, então, querer alçar tamanho estado de graça impraticável ? Nada nem ninguém, nunca será imaculado, sem falhas, nem terá todas as respostas. Eu mesma não obtive nenhuma ao fazer uma simples pergunta, quem dirá o resto de todas as pessoas por aí a fora.
Aquele período de tempo me marcou. Não sai de meus pensamentos, mas ao mesmo tempo, sinto-me inutilmente impotente pois nada posso fazer para mudar aquela ou qualquer outra situação que não me diga respeito.
Não sou Deus. Sou imperfeita por natureza. E a natureza talvez tenha respostas para tudo isso e para o garoto de muletas. Eu não tenho.
Tenho apenas a vergonha, algumas lágrimas e uma tristeza condizente. Sinto não poder ter corrido até ele e ter oferecido ajuda. Talvez todos me olhariam com olhos de quem sente-se incomodado, talvez o garoto sentiria-se ofendido, talvez ele aceitasse minha ajuda. Talvez não. Fiquei apenas com um ar hipotético no rosto, questionando-me e tentando parecer normal.
Quando me dei conta, o garoto subia no ônibus o qual esperava, e foi-se. Fiquei por ali pensando, matutando e me lembrando, até que meu ônibus também chegou. E fui-me.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ha uma certa ordem no caos! ha uma certa vida no silencio do incompreendido. Ha uma poderosa força nas muletas do garoto que retratam as mazelas de seus deslizes de ontem quando ele teve tempo de refletir assim como voce faz agora e preferiu se deixar levar pelos prazeres morbidos. Seja muito bem vinda a vida real e inescrupulosa.

Beijo.

Léo Abrão disse...

Mais uma das belezas da vida: qualquer situação traz em si o potencial de ensinar importantes lições a quem tem um coração no cérebro e um cérebro no coração :-) Beijo.