sábado, 10 de maio de 2008

À/A Espera.

Cor-de-mel. Eram a cor dos olhos daquela garota que fitava a mesma paisagem todas as semanas. Por um dia em cada uma delas, ela tinha o prazer de desfrutar momentos extremamente seus, em que ela podia divagar, refletir e não se prender a convenções.
Era tanta paz e satisfação...chegava a incomodar aquele coração que sacrificava-se em bater, e assim ela tentava se confortar. Tentava sentar-se de outros jeitos, se apoiar em outras minúcias e assistir aquilo atenta. Mas era tudo o que sempre havia procurado e agora, depois de tanto tempo, sem que ela esperasse, se deparava com o brilho de seus próprios olhos e com seu sorriso involuntário a cada minuto em que admirava toda aquela perfeição.
Era a figura ideal, que a tirava do chão, fazia-a flutuar e se perder em seus pensamentos tão relaxados, ao contrário de seu corpo que vezes se contraía pelo frio e o vento cortante em seu rosto lívido. Ela se encolhia buscando calor em suas esperanças e seus próprios braços. Não tinha com quem dividir aquilo, e em se tratando de tal paisagem, ela não o faria mesmo.
Ela se apertava em seu casaco, cruzava suas pernas e ficava parada. Seus olhos seguiam cada detalhe e a cada dia, algo novo a surpreendia, deixando-a mais hipnotizada.
Nada era como aquilo e aqueles momentos particulares. Pareciam infinitos e ela se perderia esquecendo as horas se pudesse ficar por ali, observando atentamente seu novo objeto de admiração. E era diferente de qualquer outro que ela já havia tido...ela o queria para si, queria fazê-lo seu, feliz e de mais ninguém, chegando ao ápice do egoísmo, mas ao mesmo tempo, se metendo em uma relação contraditória com o altruísmo. Não sabia como agir quando aquilo parecia a olhar tão furtivamente quanto ela. Imaginava o que ela sentia ?
Bobagem...aquela paisagem era tão dona de si mesma e imponente ! Já deveria ter tido outros admiradores, e saberia ela se outra pessoa, ao mesmo tempo que ela, também não admirava aquilo ? Ela se angustiava ao pensar que um dia não veria a mais, sentia seu peito palpitar mais forte quando pensava na tristeza que a tomaria quando esse dia chegasse.
Começou a ficar confusa, pois aquela beleza infindável tomava as volutas de seu pensamento e não a deixava mais calma, mas ansiosa pela hora de vê-la novamente, pelo dia da semana em que ela se sentia sublime e importante. Pelo dia em que ela sentia a si mesma, e o conhecimento que detinha sobre seus próprios sentimentos, sobre sua personalidade.
Aquilo tudo a fazia não mais sentir o frio, e a não entender mais as mensagens que recebia.
Havia se apaixonado ! Mas...o que faria com aquele amor ? Não entendia como poderia viver tal situação...
Tentava gritar com a voz rouca para acordar sua alma e não se perder. Tentava esquecer, mas sempre voltava ao mesmo lugar, com os olhos fixos na mesma razão incial de todo seu contentamento. Tinha medo.
Não sabia se era correspondida. Não sabia se tinha o conhecimento necessário para amar, e já não acreditava nessas coisas de amor há muito tempo. Seu coração sacrificava-se, mais uma vez não só para manter-se ativo e quente, mas principalmente para entender todas aquelas artimanhas provindas de seus sentimentos. Que faria ?
Ela não quis se rebelar, mas ainda assim sentia algo a mover e fazê-la acreditar que aquilo não era um mero devaneio. Não poderia ser tão inconsequente a tal ponto.
Ela amava. E o que a fez acreditar, era a razão de seu medo...havia compreendido em parte o que a angustiava. E a angústia se tornou a esperança repentina de que seu amor se revelaria um dia, a qualquer momento, deixando de ser aquela paisagem imóvel, inanimada. Seria sim alguém com quem ela repartiria o peso de suas dúvidas e inquietudes, a leveza de seu amor e a beleza que seus olhos miravam ao observar aquela paisagem.
Que faria ? Não tinha mais medo, então...esperaria.

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