domingo, 18 de maio de 2008

Pace in Cruce.

Um garoto vagava pelas ruas vazias no fim de um dia cinzento. E para ele, todos os dias eram assim: frios, cinzentos e vazios.
Tinha seus altos e baixos, mas contava mais os baixos que os altos pois era mais fácil a contabilidade.
Se irritava e sofria com seu próprio egocentrismo, mas não sabia como lidar com aquilo. Aquilo que ele chamava de loucura, ou as vezes sanidade, falta de escrúpulos, ou as vezes de consciência. Aquilo que ele mesmo, por vezes não havia conseguido descrever ou sequer suportar dentro de si.
Ele sofria calado por razões próprias. Ninguém compartilhava de suas dores, suas alegrias e ele fazia questão de não ser aparente, nem ao menos visível. O quanto tentaram ajudar àquele garoto...tão frágil e tão forte. Seus dias passavam como se passam carros nas avenidas: gélidos, ignorantes e rápidos.
Ele gostava da delicadeza das flores e dos gestos singelos, mas também gostava da violência com que seus sentimentos e tristezas se anuviavam em seu peito e frente às suas vistas.
Quando ele corria pelos campos, sentia-se livre de qualquer problema, ou qualquer idéia iminente que o pudesse fazer parar e pensar. Pensar era o que menos queria, e as velozes divagações que tinha, o faziam correr mais rápido e esquecer por um momento de que era gente.
Era isso que mais desejava, se livrar de toda a gente a que tinha que ver e não ser rude. Queria ser dono de sua própria gente e humanidade particular. Ser parte daquelas gentes o incomodava e ele corria. Fugindo de seu ser e de sua consciência. Ele queria ser vivo, ser semente e ser levado com o vento. Queria não saber o que era dor, pessoas, frio, vazio, coração ou idéias. Queria não ser mais pessoa. Queria não ser mais gente.
Quando ele parava, já ofegante e quase desfalecendo, tinha vontade de compor, cantar, gritar e ser sublime a si mesmo. Seus músculos fortemente exigidos não o ajudavam a formular idéias e era assim que ele gostava de ficar. Gostava de cansar à sua mente e principalmente ao seu corpo magro e dolorido.
Aquele menino queria ser grande ao mundo, carregá-lo nas costas e tratá-lo a sua maneira. Mas e quanto ao seu desejo em manter-se lacônico e invisível ?
Ah, isso logo se ia quando ele embrenhava-se em suas criações. Tinha sede por gritar àquelas gentes que o fizeram sofrer, criava sem pensar e jogava-as no papel, ao ar e a quem o escutasse.
Criava histórias que não tinham final pois achava aquilo muito prosaico e regrado. Gostava dos textos não terminados e com continuações. Mas e quanto à sua própria história ?
Bom, para essa sim ele preparava um final. Um término que não mais o lembraria daquela vida contraditória, pesada e fria. Um término que findasse toda e qualquer possibilidade de volta.
E voltar era algo que ele não admitia, além de concordar que não adiantaria. Tudo o que havia feito até aquele momento se repetiria, trazendo-o ao mesmo lugar em que se encontrava.
Então, num dia mais frio que o habitual e não tão vazio como sempre era, ele pensou em dar o fim adequado à sua história. Seria a primeira e última que ele terminaria. E assim o fez.
Tomou de si a própria vida e deu ao mundo razões para continuar sem ele. Não contaria mais os dias e nem às paredes sobre seu sofrimento. Não mais desejaria beber da morte. Não mais veria seus despedaços. Não mais daria à tristeza razões para acompanhar-lhe. Continuaria sem o mundo, e o mundo ? Muito bem sem mim, diria.

Um comentário:

Dittu Zen disse...

meo, se eu dissese que é praticamente o que eu sinto, não vai ser novidade né? Mas ele mais exagerado do que eu =D muito bom cara, você escreve bastante bem ;)
beejo ;@