quinta-feira, 8 de maio de 2008

Luna.

Como se não bastasse ser uma das primeiras vezes que saíamos, era preciso celebrar aquilo, mesmo que de forma involuntária e secreta.
A glória da noite tinha outro nome e que de tão magnífico, não me lembro. As assíduas frequentadoras do bar ganharam doses de graça, cortesias da casa.
- É, não se fazem mais bares como antigamente...
- Você só tem 18 anos !
- Bom...não me diga o que fazer !!
E então, a surpresa da primeira boda de amizade: dois sujeitos ao pé da mesa em "missão de paz"; já puxando as cadeiras e pedindo outra bebida, perguntaram se podiam desfrutar de nossa companhia.
Mas, antes que eu pudesse exercitar minha maravilhosa arte prolixa de desculpas esfarrapadas, ela mandou que se sentassem, igualmente sem graça.
Eu a olhei com os olhos de quem já não pensa racionalmente e que já tem 1/5 do cérebro mais lento que o não-habitual. E olhei os amos de companhia com o olhar tediante e fadigado, como só o meu cansaço sabe causar.
Para evitar qualquer tragédia, típica desta pessoa estabanada, eu não dizia nada. Ria ocasionalmente e somente abria a boca para bocejar, pois afinal, a noite já havia se estendido mais que o esperado.
O indivíduo falava e eu pensava. Pensava sobre os problemas, sobre meus livros, sobre a mesa do lado, o outro lado da rua, minha gastrite em potencial, e sobre a fome e a sede por açúcar que me tomavam. Eu não podia com aquilo...era mais forte que eu, e só mais glorioso seria dormir ali, na mesa.
Dormir aquele sono pesado, que me domava as pálpebras e me bocejava a alma. Aquele sono cansado, inocente, que é só sono e que não pede nem silêncio. Aquele que amortece as ondas sonoras e camufla o silêncio. O cansaço na pura essência, que origina o sono.
- Olha, a gente tem que ir, viu ?
- Ahn ? Ah é, precisamos mesmo.
E fomos.
Ah, a glória da liberdade na noite, na rua e no soluço ! Apesar disso, era um soluço de felicidade, de alegria, que me tomava o estômago e os lábios, pois eu ria, meio sem motivo, mas ainda por motivos insignificantes.
Era bom andar mal e tortamente por aquelas ruas pouco movimentadas, sendo levada pelo braço por ela, afinal...estávamos no final de maio e o inverno começava a arregaçar suas mangas, enquanto nós esticávamos as nossas. E mais do que uma noite ruim e sonolenta, tínhamos agora uma lembrança da primeira boda que fizemos, da segunda (ou terceira) noite que rimos, comentamos, conversamos e fomos amigas. Eu e ela, como irmãs. E de como comemos doces. Eu, é claro, mas ainda doces. Amizades.

Um comentário:

Textos & Pretextos disse...

Crônica muito bem escrita. A gente é arrastado para o bar, para as conversas sem fim e sem nexo, e para a noite fria. Ainda bem que tem os doces!